Por que Altas Habilidades ainda é um tema incompreendido?
- tatianemoraisunespar
- 10 de nov.
- 5 min de leitura

Quando falamos sobre Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), é comum nos depararmos com olhares confusos, comentários equivocados e até mesmo resistência. Diferente de outras condições do neurodesenvolvimento que recebem atenção e recursos, as Altas Habilidades frequentemente são negligenciadas, mal interpretadas ou simplesmente ignoradas no contexto educacional e social.
Mas por que isso acontece?
A resposta está em uma série de preconceitos enraizados e na falta de compreensão sobre o que realmente significa ter altas habilidades.
O PRECONCEITO SILENCIOSO
"Eles já são privilegiados, não precisam de apoio"
Este é talvez o maior mito que cerca as altas habilidades. Existe uma crença generalizada de que crianças e jovens superdotados "já sabem tudo" e, portanto, não necessitam de atenção especial.
Como bem observa Joseph Renzulli, um dos maiores especialistas mundiais em educação para superdotados:
"A superdotação é um comportamento que reflete uma interação entre três grupos básicos de traços humanos: habilidades acima da média, altos níveis de comprometimento com a tarefa e altos níveis de criatividade."— Joseph Renzulli, Modelo dos Três Anéis (1978)
Essa definição já nos mostra que altas habilidades vão muito além de simplesmente "ser inteligente" — e que, sem o ambiente e os estímulos adequados, esse potencial pode nunca se manifestar plenamente.
A realidade é bem diferente do mito:
Estudantes com AH/SD frequentemente sofrem com tédio crônico em sala de aula.
Podem desenvolver problemas emocionais e sociais por não se sentirem compreendidos.
Muitos apresentam baixo rendimento escolar (subperformance) por falta de estímulo adequado.
A ausência de desafios pode levar à perda de motivação e até evasão escolar.
"Não é transtorno, então não é prioridade."
Aqui está o cerne do preconceito: porque altas habilidades não são classificadas como transtorno ou doença, são frequentemente deixadas de lado nas políticas educacionais.
Enquanto condições como TDAH, autismo e dislexia (corretamente) recebem atenção, recursos e adaptações curriculares, as altas habilidades ficam em segundo plano - ou nem isso.
O problema dessa lógica:
✗ Pressupõe que apenas "problemas" merecem atenção✗ Ignora que todos os estudantes têm direito a uma educação que atenda suas necessidades✗ Desconsidera que potencial não desenvolvido é potencial desperdiçado✗ Perpetua a ideia de que "normalidade" é o único objetivo educacional
ALTAS HABILIDADES NÃO É DOENÇA - E ISSO NÃO DIMINUI SUA IMPORTÂNCIA
É uma condição do neurodesenvolvimento
Assim como outras neurodivergências, as altas habilidades representam uma forma diferente de processar informações, aprender e interagir com o mundo.
Características neurobiológicas incluem:
Maior densidade de conexões neurais em áreas específicas
Processamento de informações mais rápido
Memória de trabalho expandida
Pensamento divergente e criativo acentuado
Requer suporte educacional específico
Renzulli enfatiza que a superdotação não é uma característica fixa, mas sim comportamentos que podem ser desenvolvidos:
"Os comportamentos de superdotação podem ser desenvolvidos em certas pessoas, em certos momentos e sob certas circunstâncias."— Joseph Renzulli
Isso significa que o ambiente educacional e os recursos disponíveis são determinantes para que o potencial se transforme em realização.
Não se trata de "privilégio", mas de equidade educacional:
Necessidade | Justificativa |
Enriquecimento curricular | Conteúdo regular não oferece desafios adequados |
Aceleração quando apropriado | Ritmo padrão pode ser frustrante e desmotivador |
Apoio socioemocional | Assincronia entre desenvolvimento intelectual e emocional |
Mentoria especializada | Desenvolvimento de potencial em áreas de interesse |
Comunidade de pares | Conexão com outros que compartilham intensidades similares |
EXPANDINDO O CONCEITO: ALÉM DO QI
Um dos grandes avanços trazidos por Renzulli foi justamente desconstruir a ideia de que superdotação se resume a ter QI alto. Seu Modelo dos Três Anéis revolucionou a área ao mostrar que:
Os Três Anéis da Superdotação:
🔵 Habilidade Acima da MédiaNão precisa ser genialidade extraordinária - pode ser talento em áreas específicas
🟢 Comprometimento com a TarefaMotivação, persistência, dedicação - elementos que podem ser cultivados
🟡 CriatividadePensamento original, capacidade de ver problemas de formas novas
A interseção desses três elementos é onde a superdotação se manifesta.
Isso significa que:
✅ Mais estudantes podem ser identificados e apoiados
✅ O foco sai do "rótulo" e vai para o desenvolvimento
✅ Reconhece-se que contexto e oportunidades importam
✅ Abre espaço para diversidade de talentos e manifestações
OS CUSTOS DO PRECONCEITO
Para o indivíduo:
😔 Isolamento social e sensação de não-pertencimento
📉 Subdesempenho acadêmico crônico
🧠 Problemas de saúde mental (ansiedade, depressão)
💔 Baixa autoestima e síndrome do impostor
🚪 Evasão escolar em casos extremos
Para a sociedade:
🔬 Perda de potenciais cientistas, inventores, artistas
💡 Inovações que nunca acontecem
📊 Desperdício de recursos humanos excepcionais
🌍 Problemas complexos que poderiam ser resolvidos
Como alertou Renzulli:
"A perda de talentos é uma das maiores tragédias educacionais e sociais de nosso tempo."
MUDANDO A NARRATIVA
O que precisamos entender:
✅ Altas habilidades são uma forma de diversidade - e diversidade enriquece✅ Não é sobre ser "melhor" - é sobre ser diferente e ter necessidades específicas✅ Educação inclusiva inclui TODOS - não apenas quem tem dificuldades✅ Potencial precisa ser nutrido - talento sem desenvolvimento é talento perdido✅ É questão de direitos humanos - toda criança merece educação adequada às suas características
O papel da tecnologia:
É aqui que a tecnologia educacional se torna fundamental, alinhada com a visão de Renzulli de criar oportunidades para que os comportamentos de superdotação se manifestem.
Ferramentas digitais permitem:
🎯 Personalização em escala - cada estudante no seu ritmo🌐 Acesso a conteúdos avançados - sem limitações geográficas🤝 Conexão com comunidades - encontrar pares intelectuais📈 Monitoramento de progresso - identificação precoce de necessidades🎮 Engajamento por meio de desafios - desenvolvendo comprometimento e criatividade🔬 Projetos autênticos - aplicação real do conhecimento
CHAMADA PARA AÇÃO:
É hora de mudar o olhar sobre altas habilidades
Não se trata de criar "super-heróis" ou alimentar egos. Trata-se de:
👁️ Reconhecer que diferentes cérebros precisam de diferentes abordagens
📚 Educar famílias, professores e sociedade sobre o tema
🛠️ Desenvolver recursos e tecnologias adequadas
🤲 Apoiar emocionalmente esses indivíduos
⚖️ Garantir equidade no acesso à educação de qualidade
O AHTEC existe para isso: ser uma ponte entre o potencial das altas habilidades e as tecnologias que podem desenvolvê-lo plenamente.
Altas habilidades não são doença, não são transtorno, não são privilégio. É simplesmente uma forma diferente de ser — e toda forma de ser merece ser compreendida, respeitada e apoiada.
Como nos ensina Renzulli, a superdotação não é algo que você tem ou não tem — é algo que você desenvolve quando as condições são favoráveis.
Quando deixamos o preconceito de lado e abraçamos a diversidade cognitiva em todas as suas formas, criamos as condições para que todos possam florescer.
📚 REFERÊNCIAS:
Renzulli, J. S. (1978). What makes giftedness? Reexamining a definition. Phi Delta Kappan, 60, 180-184.
Renzulli, J. S. (2005). The Three-Ring Conception of Giftedness: A Developmental Model for Promoting Creative Productivity. In R. J. Sternberg & J. E. Davidson (Eds.), Conceptions of Giftedness (2nd ed., pp. 246-279). Cambridge University Press.
📌 PRÓXIMOS PASSOS:
📖 [Entenda o Modelo dos Três Anéis de Renzulli]
🧪 [Conheça as tecnologias que podem ajudar]
👨👩👧 [Recursos para famílias]
🎓 [Capacitação para educadores]



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